Técnica de Rabiscos ou Jogo de Rabiscos

12/02/2010 21:35

A técnica dos rabiscos é uma prova relativamente fácil e apelativa, fundamentada no Jogo dos Rabiscos de Winicott, que permite analisar o pensamento da criança a partir da sua projeção perante um conjunto de traços (rabiscos) aparentemente sem significado.

 

O Jogo do Rabisco caracteriza-se como uma técnica que, tal como qualquer brincadeira, está fundamentada na concepção de espaço transicional, permitindo o acesso a conflitos e angústias, demonstrando ser um instrumento adequado no atendimento de crianças e adolescentes.

 

Esta técnica se diferencia pela liberdade de ação e ausência de normas fixas, o que é próprio das brincadeiras das crianças, contrastando dessa forma com os jogos estruturados por sistemas de regras.

Winnicott utiliza este jogo como técnica de comunicação com a criança. O psicopedagogo e o aluno (paciente) executam, alternadamente, traços livres; cada parceiro deve modificar o rabisco do outro à medida que for sendo realizada a tarefa.

 

O Jogo do Rabisco é apenas uma maneira de entrar em contato com o paciente pelo uso do lápis e papel.

 

Podemos dizer que os dois, psicopedagogo e paciente, vão realizar no espaço potencial, através do gesto criativo - o rabisco que se transforma em imagem e depois em discurso.

 

Ao mesmo tempo em que o rabisco possibilita um diagnóstico do caso, a técnica se constitui no processo.

 

As instruções de jogo são muito simples e deixam a criança em liberdade:

“- Faço um rabisco e você o modifica; depois é sua vez de começar, e sou eu que vou modificá-lo."

 

Esta técnica, na verdade, é recriada com cada criança, indo de acordo com o seu jeito de ser, deixando que o paciente componha a situação segundo o seu estilo de vida, imaginação, desejos, fantasias e emoção.

 

Este instrumento, diferente dos testes e técnicas projetivas, pois não cria na criança a sensação de que está sendo avaliada, mas é só mais um recurso que pode ser utilizado conforme as necessidades de um determinado paciente e o tipo de atendimento que se pretende estabelecer.

 

O Jogo do Rabisco é, portanto um instrumento que proporciona o mergulho do psicopedagogo e paciente num espaço compartilhado, onde a confiança poderá ser mais forte, auxiliando a criança na perspectiva de ter condições para alcançar seu potencial de desenvolvimento.

 

Aproveitamos e colocamos outras estratégias que podem ser utilizadas pelo psicopedagogo no trabalho de diagnóstico ou atendimento.

(Retirado de www.caxias.rs.gov.br/novo_site/_uploads/educacao/artigo_66.pdf )

 

1. Desenho Espontâneo – Sem proposta temática

Objetivo: O desenho espontâneo propicia conhecer o universo simbólico, temático e conceitual da criança.

As atividades de desenho espontâneo são realizadas com uma dupla finalidade:

a) para que a criança experimente de modo criativo a linguagem expressiva sem a intervenção do adulto.

b) para que o professor observe, acompanhe e estimule o desenvolvimento gráfico de seus alunos.

 

2. História do desenho

Acompanhar a criação de um desenho espontâneo pela criança e depois incentivá-la a contar a história do seu desenho.

Objetivo: Investigar as relações que a criança estabelece entre os símbolos gráficos e seus significados, sua interpretação dos grafismos, e os vínculos que ela cria entre as formas desenhadas.

 

3. Desenho da história

Selecionar histórias pequenas, com a temática do interesse das crianças, na sua faixa etária e relacionada com as suas vivências, permitindo a identificação.

Objetivo: Reconstruir, através do desenho, a história contada, estabelecer relações entre suas vivências, o referente (a história lida) e a sua representação no desenho. Ao desenhar, cada criança faz um recorte da história de acordo com seus interesses.

 

4. Desenho de vivências

O desenho como registro de experiência é uma atividade que possibilita documentar experiências, pensamentos, alegrias, perdas, enfim, tudo que é significativo. É enriquecedor do repertório gráfico, por referirem-se às mais diversas situações.

Objetivo: Estabelecer relações entre a leitura real com o desenho e registrar as experiências.

 

5. Jogo dos rabiscos

Este jogo é realizado entre duas crianças em idades semelhantes. Um jogador faz uma figura e o outro faz outra, de modo que n cena desenhada, haja uma interação entre as formas. Pode ser chamado assim diálogo gráfico.

Requer invenção e fantasia, e durante a criação das formas cada um vai dizendo o que acontece e o que acontecerá no desenho.

O jogo dos rabiscos consiste em dialogar graficamente, sendo que a criança faz um traço e a outra o completa dando sentido ao rabisco, assim sucessivamente.

Objetivo: Criar um espaço de relações, de comunicação e de experiência de interação entre as crianças e as formas.

 

6. Desenho de observação

O desenho de observação é realizado na presença de objetos significativos para as crianças (brinquedos...) ou imagens, elementos da natureza ou cenas escolhidas pela criança em livros de histórias, em revistas, em jornais, desenhos de TV, etc.

Objetivo: Transformar a imagem observada em registro desenhado, fazer a transposição de objetos tridimensionais ou bidimensionais para uma linguagem gráfica. Desenvolver a interpretação.

 

7. Reunião das partes

Criar uma cena com recortes geométricos de formas simples.

A criança brinca com o material, explorando-o e depois é convidado a registrar em desenho a cena criada.

Objetivo: Observar as correspondências e as transformações, a interpretação em desenho e estabelecer um diálogo com a criança, incentivando-a a comentar o que percebem.

 

8. Jogo gráfico

Desenhar diferentes tipos de figuras, animais e objetos. Escolher o objeto que a criança já conhece e experimentou.

Objetivo: Ampliar número e variedade de objetos desenhados, formas e cenas do cotidiano que aparecem pouco trabalhados, expressando suas concepções acerca da relação objeto-símbolo gráfico.

 

9. Leitura da sua produção

Realizar a leitura de maneira informal e flexível, formulando perguntas acerca do conjunto de seus desenhos.

1. Mostra quais os desenhos que você fez quando começamos a nos reunir e quais fez por último. É esta a ordem? Por quê?

2. O que desenhou? (Levar a criança a descrever o que observa.)

3. Esses desenhos são iguais? (Comparar alguns desenhos iniciais com os últimos feitos.)

4. O que muda de um desenho para outro? Por que será que o desenho muda?

5. Como se aprende a desenhar?

Estas são sugestões de perguntas.

Basicamente deve-se conduzir a conversa pedindo que a criança fale sobre seus desenhos, explicando o que desenhou, quem aparece no desenho e o que acontece na cena gráfica do desenho.

 

10. Leituras de Obras de Arte

Escolher reproduções de obras de arte significativas e que possuem similaridade de vocabulário e do repertório com a linguagem gráfica das crianças. O vocabulário diz respeito ao tipo de linha, texturas, pontos, planos de que o sujeito se vale para criar suas formas. O repertório relaciona-se ao tema e às categorias de objetos que são desenhados.

Organizar as imagens em conjuntos segundo suas similaridades ou diferenças temáticas, de tratamento e expressividade.

Objetivo: Ampliar o universo visual e estético, a observação, a percepção de semelhanças e diferenças, desenvolver o vocabulário, associar, relacionar e desvelar idéias.

 

Questões propostas:

1. O que se pode ver neste trabalho?

2. Que cores ele tem?

3. Ele lembra algo bom, triste, divertido...? Por quê?

4. Você gostou deste trabalho? Por quê?

 

11. Por onde vai?

Objetivo: Noções de espaço, deslocamento, direção, representação gráfica.

Material: Caixas, folhas de jornal, papel para desenhar, lápis.

Atividades:

Colocar os obstáculos alinhados, simulando quarteirões de uma cidade.

Uma criança percorre as ruas, dobrando, seguindo em frente, enquanto as outras colocam-se no chão, diante das folhas, traçam o percurso que observaram.

Cada criança desenvolve, por sua vez, o caminho que preferir.

 

12. Abrindo caminhos

Objetivos: Noção de espaço, coordenação, representação gráfica, superfície plana.

Material: Corda, barbante grosso, folhas de papel, giz de cera.

Atividade:

Com a corda, todos juntos formam um pequeno caminho.

Desenhar nas folhas o caminho feito.

 

13. Sinaleira

Objetivo: Identificação das cores, regras, coordenação.

Atividade:

Verde: As crianças avançam e se movimentam livremente, imitando o som de carros e ônibus.

Vermelho: Parando, desligam o motor (silêncio).

Amarelo: Dão arrancada e se movem no mesmo lugar.

 

14. Brincadeira dos opostos

Objetivo: Representação mental, indicação de diferenças, vocabulário

Atividade:

Elencar contrastes, montar uma história onde cada participante acrescenta um novo elemento, exatamente oposto ao anterior.

 

15. Rios abertos

Objetivo: Noções de espaço, representação gráfica.

Material: Folhas de jornal ou outro papel, giz de cera.

Atividade:

As crianças desenham rios fazendo diferentes traçados. Recortar, separando em duas partes.

Desenhar a paisagem em ambos os lados do rio.

Após navegar pelo meio, juntando todos os rios abertos.

 

16. Desenho com obstáculos

Objetivo: Noção de figura/fundo, eliminar traços estereotipados, limites.

Material: Bloquinhos de madeira, papelão, tampas, etc... Papel de formatos variados e tamanho grande, lápis de cera ou giz colorido molhado no leite ou em água com açúcar.

Atividade:

Os bloquinhos podem ser grudados com fita crepe dobrada (para ser retirado depois). Escolher o local para colocar os objetos na área do papel que a criança menos usa. Cobrir a superfície do papel com cores variadas. Retirar o(s) objeto(s). A(s) área(s) em branco poderão ser retrabalhadas, criando figuras na superfície.

 

17. Exploração básica: Qualidades de Superfície

Objetivo: Conhecer texturas, consistência física e térmica dos objetos, conhecer o mundo pelos receptores primários: olfato, gustação e tato, e secundários: meios simbólicos da visão, audição e fala.

Materiais: Lápis de cera, papel, objetos do meio.

Atividades:

Explorar com as mãos os diferentes materiais e suas características, nomeando-as, em seguida deslocá-las no papel com lápis de cera deitado.

O papel pode ser preso com fita para ficar firme.

As texturas podem ser variadas, com cores diferentes, sobrepostas, comparadas com as dos colegas.

Podem ser trabalhadas posteriormente formas recortadas irregulares ou geométricas de papel grosso, para tirar a impressão.

Também podem ser de plástico que adere à superfície da classe.

O resultado pode ser usado em cartões, molduras, colagens para completar desenhos.

 

18. Rabiscos e formas

Objetivo: Perceber as diferenças entre as linhas e seu uso para representar simbolicamente, fazer associações.

Materiais: Corpo, corda ou fita crepe, lápis de cera, papel.

Atividades:

- Trabalhar no espaço, com os movimentos da criança, o se corpo e finalmente no papel.

- Esticar a corda que define a linha no espaço. Todos fazem uma fila ao lado. A fila se afrouxa e vira roda, demarcada pela corda.

- A fita crepe é estendida no chão, inventar jeitos diferentes de andar sobre a linha reta. Fazer igual com a linha curva.

- Sensibilização tátil: adivinhar o sinal que foi traçado nas costas. A criança adivinha traçando com o seu dedo sobre a classe. Usar fichas com traços para os alunos realizarem desenhos nos colegas.

- Completar o traço: as crianças recebem folhas com traços e imaginam o resto do desenho, considerando a figura e o fundo. Podem realizar o jogo em duplas.

 

19. Esquema Corporal (1) - Contorno

Objetivo: Representar a figura humana graficamente.

Material: Folhas grandes de papel Kraft, giz ou lápis de cera.

Atividades:

Antes de desenhar é preciso conhecer o próprio corpo pelo tato, visão no espelho.

Trabalhar em duplas, para o contorno. As posições podem ser variadas, com braços e pernas dobradas, com movimento.

Colar um limite concreto na linha de contorno. Pintar, colar detalhes para o rosto, roupas.

Essa atividade pode ser feita usando o sistema de silhueta com projetor.

 

20. Esquema Corporal (2) – Completando Figuras

Objetivo: Domínio do todo e das partes, figura/fundo. Simetria

Materiais: Recortes incompletos de figuras humanas, cola, tesoura, lápis ou tintas, papel.

Atividades: Perguntar o que falta. Para crianças menores as figuras devem ser simples, de frente.

Completar as partes que faltam. Pensar junto com as crianças no contexto, no fundo.

Perguntas como onde está, o que faz, do que gosta, quem é o seu amigo, ajudam a completar as idéias.

As figuras podem ser de animais, meios de transporte, casas, paisagens.

 

21. Impressão Digital – Carimbo

Objetivo: Imaginação, marcas expressivas, criação coletiva.

Materiais: Dedos, tintas, papel, lápis colorido.

Atividade:

Tirar a impressão dos dedos e colocar detalhes para criar personagens, com lápis colorido.

As crianças podem criar em pequenos grupos, pensando em montar suas próprias histórias que serão contadas para todas as colegas.

 

22. Figuras com canudinhos

Objetivo: Representação simbólica, noção de espaço

Material: Canudinhos de refrigerantes

Atividades:

Explorar todas as possibilidades de armar figuras no chão. Pode-se sugerir objetos, conduzindo para maior complexidade. Registrar em desenho as figuras montadas.

 

23. Fantoches diferentes

Objetivos: Pensamento simbólico, construção de personagens, comunicação.

Materiais: Palitos de picolé, cartolinas 15x15, figuras coloridas: humanas, animais ou imaginárias.

Atividade: Montar cenas breves imaginadas, de histórias...

 

24. Quebra-cabeça – Corpo

Objetivo: Espaço, representação da figura humana.

Materiais: Recortes de revista com figuras humanas

Atividade: Cortes simples horizontal/vertical.

 

25. Sair e voltar para casa

Objetivo: Coordenação, noção espacial, representação gráfica.

Material: giz colorido, piso

Atividade: Desenhar no chão a própria casa

Sair a passeio, traçando o percurso no chão.

Respeitar a casa dos outros quando passar por elas.

Pode-se fazer visitas, entrando em outras casas e retornando à sua.

 

Referências Bibliográficas

 

Accioly Lins, M. I. O Jogo do Rabisco como Interpretação. Em: Mello Filho,J. & Silva, A. M. I. (Orgs.), Winnicott – 24 Anos Depois (pp.53-59). Rio de Janeiro: Revinter, 1995.

Bolwby, J. Apego: A Natureza do Vínculo. São Paulo: Martins Fontes, 2002.

Newman, A. As Idéias de D. Winnicott – Um Guia. Rio de Janeiro: Imago, 2003.

Vaisberg, T. A. Ser e Fazer: Enquadres Diferenciados na Clínica Winnicottiana. Aparecida, São Paulo: Idéias & Letras, 2005.

Winnicott, D. W. Explorações Psicanalíticas. Rio de Janeiro: Imago, 1965.

___________. O Brincar e a Realidade. Rio de Janeiro: Imago, 1971.

___________. Os Bebês e Suas Mães. São Paulo: Martins Fontes, 1988.